11 de junho de 2012

A respeito da Miséria do Meio Estudantil no presente apoteótico em que vivemos




(Aviso preliminar: esse texto não é coerente, tem a pretensão das crianças que querem voar, e talvez você não sinta nenhuma vontade de seguir lendo, faz bem então, desejo-te um bom resto de vida)

Como podemos ser tão burros? Não percebemos que o monstro ao fim venceu, comeu nossas carnes e ainda rói os ossos de nossa existência. O estudante é nos dias de hoje o ser mais miserável do mundo, parafraseio e modifico a famosa frase que em 68 assaltou muros e rascunhos de uma Europa como sempre velha. Está tudo lá na brochura espalhada aos milhares. O estudante é mesquinho e o maior contribuinte da manutenção da ordem estabelecida. Ele é aquele que alavanca a indústria cultural em seu âmago, aquele que mais bem sabe lidar com a aparência e a separação. Aquilo mais coerente com a realidade realmente invertida.

Ora, quem sou eu para dizer tamanhos disparates? Não sei e convenhamos que isso não interessa muito. Estudamos muito, e galgamos nosso lugar na sociedade todo dia, nos sentimos o eixo da roda da vida, mas dela não somos nem o parafuso fora de lugar. Temos o direito e o dever de nos revoltarmos, somos jovens e inexperientes nas coisas sérias da vida cotidiana. Nossos problemas são muito poucos e muito menores. Agimos violentamente, e somos amparados por nossa idade e por nossos ancestrais mortos. A mão afaga de leve os cabelos longos, talvez seja carinho, talvez seja apenas um agrado para que o cão amanhã volte a latir.

Temos ainda a capacidade de ler, ler bem e orar às massas inertes da sociedade produtora de bens materiais descartáveis, na qual faremos parte apenas por algum desvio de conduta casual. E como gostamos de falar muito, temos certeza da guerra que travamos contra a alienação. Mas o mar de tão traiçoeiro, não avisa quando seu fundo dobra a profundidade, afogamo-nos em palavras sem sentido, discutindo a idiotice dos termos corretos das palavras-chave da emancipação humana.

Mas os problemas são os mesmos. Existem aqueles que trabalham, e muito, para que o mundo abstrato em que vivemos nos garantam a abundância desejada da fila dos supermercados. E temos acesso fácil ao crédito e débito da vida, somos jovens e temos potencial. Potencial revolucionário também, para passarmos um curto-longo período nos reivindicando o direito de ser o umbigo do mundo, para depois casar, ter filhos, cachorro e empregada doméstica. Mas isso não é absurdo, nem ao menos contraditório. Sempre foi assim, miserável.

É claro que alguns morrem no meio do caminho. Morrem de tiro de revolver matado, de overdose, de colesterol, de dias ruins de soldados da ordem sem paciência. Morrem no vigor de suas idades, suas mães choram, seus amigos choram, a vida segue com um novo mártir. Esquecemos apenas aqueles que morrem todo dia de cansaço, de velhice, de tempo de trabalho, isso é natural demais.

Discutimos e fazemos amor como antigamente, mas nos damos o direito, ou o dever (?) de fazer do amor e do sexo algo digno de luta diária, embates polêmicos, e com o passar dos anos, voltamos a olhar para trás, espelhados em nossos filhos o que estava certo e errado, tecendo comentários muito semelhantes ao dos nossos pais. Fornicação rebelde. Amor livre. Quando isso foi inventado mesmo?

Gostamos também de ser ecologicamente corretos, a vida das plantas e dos animais, pela pureza das águas e do ar que insistimos em respirar. Pela morte sem dor das ovelhas de cristo, que morram com injeções de prazer, e que sejam ensacadas à vácuo e de maneira orgânica nas prateleiras. Alguma vez passamos fome ou sede? Aquela fome de verdade, de matar boi, galinha, porco e gente? Contentamo-nos apenas em dar aquele trocado dos cigarros para o invisível da rua de baixo.

Temos o vigor lisérgico de tornar político as nossas necessidades básicas de sobrevivência: as drogas. Gostamos de usufruir conscientemente de tudo, e esse não é o problema central, afinal de contas, tudo que respira é politicamente vida. Inspira e expira. Mas estamos tão preocupados em combater aquilo que nos reprime nos momentos de ócio produtivo aditivado, que esquecemos completamente de combater a realidade concreta que é mais perniciosa que qualquer droga.

Para ser sincero, o que afinal de contas queremos de nossas vidas? Viver uma história começo-meio-fim, reprodução material e intelectual, diversão em ocasiões especiais e específicas, e sempre trabalho-trabalho-trabalho e para ganhar um dinheirinho pro último artigo da moda, mais um pouquinho de trabalho?

Não vamos mudar o mundo, somos apenas, e só isso, mercadorias que pensam. Estamos em um circo cada vez mais bem monitorado, e aprendemos cada vez mais rápido todos os conselhos de como seguir as regras de etiqueta de qualquer moda que possa aparecer. Não criamos e nem inventamos nada de novo faz tempo. Como crianças choronas, brigamos por motivos idiotas, e voltamos para o colo de qualquer mamãe quando nos é necessário.

Vamos continuar fazendo as mesmas coisas, e de novo e de novo e de novo. Será que já não chega de hipocrisia? Continuaremos a dar ouvidos aos lobos em pele de cordeiros que estão por ai, querendo nos filmar, gravar, ensinar, engolir, e depois trocar e pôr outros no lugar?

Respostas não há, e nunca haverá. A vida só é vivida quando sentimos na pele a necessidade insuportável de por um balaço na própria cabeça. Mas dai paramos, seguir igual, na mesma vidinha de merda é como ter morrido. Então talvez, enlouquecer e quebrar tudo ao seu redor seja um bom começo.

Sem ressentimentos...

3 comentários:

  1. O que me faz achar que estas últimas postagem são mais que a poesia de afundar-se na merda, é poder sentir que nelas existem ação mesmo na decadência.
    Isso já é muito, tendo em vista a apatia predomina tanto na disposição de quem caminha lentamente para a morte como nos casos em que está colocado um pretenso sucesso.

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  2. aqui tá o o ponto do texto que temos que pensar pra agir:

    "Vamos continuar fazendo as mesmas coisas, e de novo e de novo e de novo. Será que já não chega de hipocrisia? Continuaremos a dar ouvidos aos lobos em pele de cordeiros que estão por ai, querendo nos filmar, gravar, ensinar, engolir, e depois trocar e pôr outros no lugar?"

    mas agir como?

    até quando vamos ficar fazendo de tudo um espetáculo, inclusive a revolta, emoldurada numa tela de computador?

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  3. é foda... desde uns tempos venho pensando exatamente nisso, no lance de como a sociedade do espetáculo, enquanto forma acabada do capitalismo de hoje, tem a capacidade de transformar tudo em ferramenta de reprodução do próprio capital, fazendo disso, um método de alienação incomparável...

    é o que está nesses quadrinhos aqui:

    https://mail.google.com/mail/u/0/?shva=1#inbox/137e8066ee58aeb3

    http://www.gusmorais.com/2011/07/10/mapas/

    mas e ae...???

    venho brisando, mais recentemente, que uma alternativa a isso é a transformação real e irracional da vida cotidiana, e infelizmente, isso só pode se dar através de ações indivíduais, por enquanto...

    temos que nos tornar loucos e violentos mesmo... guspir de verdade na tradição, no trabalho, na família... mas não como ações auto-destrutivas, pois o sistema tem suas ferramentas repressoras que funcionam muito bem... as ações estão no comportamento e no "exemplo didático"... que ainda não consigo definir, e não sei se esse seria mesmo o melhor termo... temos que "ser", e "existir" através de relações reais dentro de onde vivemos... viver violentamente e sem excrupúlos... tentar tirar o vazio que existe e cresce cada vez mais na nossa vida cada vez mais separada e moldada em moldes pré-fabricados... bom... por hora é isso...

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