Eu sempre ouvi falar sobre o Joe Sacco e o lance que ele "inventou", jornalismo em quadrinhos... Antes de ler os livros mais cultuados, li O Derrotista, coletânea de quadrinhos de Sacco feitos antes dele fazer sucesso... gostei muito, mas não tanto para idolatrá-lo. Aí eu peguei Uma História de Sarajevo para ler, e devorei, com cuidado, atentando para cada detalhe, estudando cada composição de página, me deliciando...O mais importante para se entender sobre esse gibi, é que ele não é uma história geral sobre os conflitos separatistas após o desmembramento da ex-Iugoslávia, mas sim o ponto de vista de uma pessoa envolvida de corpo e alma no conflito, com opiniões próprias, falhas de caráter, e que no fundo no fundo, é um zé-ninguém jogado em meio a um conflito. Este cara é o Neven, um soldado, bonachão, esperto, e pronto para tirar proveito das situações.
Sacco acompanha Neven e registra suas palavras, acredita em suas versões, e tenta a todo tempo entender a complexibilidade dessa figura anti-heróica, enquanto desembolsa grana para pagar os caprichos de Neven, que por sinal, geram situações engraçadíssimas ao longo da HQ. Uma das cenas mais chocantes da história, é quando Sacco adentra a casa onde Neven mora com sua avó, a cena vista de cima, revela uma sala completamente bagunçada e suja, uma senhora deitada em um sofá podre, Joe tentando desviar dos objetos caídos no chão, enquanto Neven diz: "Não se preocupe, ela é cega".
Com o desenrolar da história, Sacco busca outras fontes sobre o conflito, e as informações começam a contrastar com o relato de Neiva... essa contradição jornalistica irrompe como característica fundamental ao trabalho de Sacco, pois o seu jornalismo não é algo inerte, compilação de dados e análises fúteis... é antes de tudo um bom papo com seres humanos, que faz surpreender ao leitor, suas inconclusões.
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