15 de abril de 2010

Canção Noturna


Ela aparentava ter catorze anos. Trajando um vestido largo com listras horizontais alternadas pretas e brancas, causava vertigem quando se olhava fixamente. No rosto emoldurado pelos cabelos castanhos-claros em um corte estilo chanel, a maquiagem forte acentuava olhos grandes, bochechas rosadas como as de bonecas de porcelana e lábios sangue brilhante. Não sei se era o álcool em excesso na minha corrente sanguínea que já chegava ao meu cérebro borbulhante, sei que me apaixonei. Ela aparentava ter catorze anos.

Nos conhecemos pegando bebidas, eu com meu jeito atrapalhado, ela sempre muito educada dava seqüência a assuntos sem futuro que eu vomitava a cada segundo. Ela sorria, eu me encantava cada vez mais, e quando menos esperávamos, mãos nos ombros e na cintura, beijo com gosto de hortelã. Em menos de duas horas fomos para o seu apartamento de táxi.

A penumbra foi testemunha de nossos beijos e carinhos, tudo feito com um amor recém desabrochado, pétalas que abrem no primeiro raiar do sol primaveril entre os lençóis brancos, chovia do lado de fora, e a janela um pouco aberta deixava um uivo de vento soprando em nossos ouvidos. Quando terminamos e eu já ia acender um cigarro enquanto acariciava os seus cabelos suados, ela levantou-se de surpresa e caminhou até um canto do quarto que mal iluminado, não me deixava ver o que escondia.

A melodia entrou pelos meus ouvidos feito riacho, com um relâmpago que invadiu o quarto pude vê-la sentada nua em um banquinho de madeira abraçada a um violoncelo antigo, tocava-o com amor e paciência acompanhando os pingos que estalavam na janela. Meu corpo todo eriçado se contorcia, pois em minha mente sabia que nunca mais a encontraria, aquele era o réquiem de um encontro improvável, vesti-me tentando não fazer barulho, e antes de sair, outro relâmpago seguido de imediato estrondo-trovão revelou uma solitária lagrima em sua bochecha rosa. E ela novamente aparentava ter apenas catorze anos.

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